Um grupo de maioria homens brancos heterossexuais acaba de consumar hoje um golpe parlamentar de Estado no Brasil. Munidos de mentiras transformadas em verdades, de poder econômico, de aparato policial e de uma grande mídia que serve de escudo para suas inverdades, conseguiram agir com tranquilidade e ainda sob o manto da justiça e da democracia.
Mais da metade desses políticos são suspeitos, acusados ou investigados por crimes. Alguns deles louvam as torturas cometidas na última ditadura militar no país, outros ameaçam mulheres de estupro e outros ainda, agridem políticas mulheres dentro do plenário. Ao mesmo tempo realizam publicamente discursos sobre a moral, a família e a honestidade. Hoje o país testemunhou 61 políticos condenando a primeira mulher presidente do Brasil sem que houvesse crime algum cometido por ela. As práticas pelas quais a condenaram é e foi inclusive praticada por muitos dos que a acusam, incluindo o relator do processo.
O sucessor ao poder presidencial teme a população, realiza discursos curtos ou nem sequer os realiza, com medo do repúdio público e coletivo à sua pessoa. Tal sucessor não permanece no país após a posse golpista, deixando um país em conflito e violência policial nas ruas de várias cidades e estados. A polícia armada defende a força um governo ilegítimo e violenta cidadãos que pedem democracia.
Uma das maiores emissoras de comunicação do país realiza uma das poucas transmissões da história das manifestações de rua, se colocando no campo de batalha, no meio do ato, junto à bombas e ataques da polícia. A emissora espalha várias câmeras pelo protesto, sendo a principal delas protegida atrás do cordão principal da polícia. A câmera principal narra os acontecimentos de acordo com o ponto de vista policial, sendo as demais câmeras utilizadas para reforçar essa narrativa detalhadamente construída de forma a defender e afirmar como justa e necessária a violência policial nas ruas do centro de São Paulo. As câmeras de apoio, a paisana, filmam rostos de manifestantes.
As expressões de alegria dos repórteres dessa emissora chamaram bastante a atenção do espectador no dia de hoje. Um ano e meio após a posse de Dilma, um ano e meio de intensa e cotidiana destruição da imagem da presidente e de seu partido , um ano e meio de intensa dedicação à construção do golpe. Construção verbal, discursiva, imagética, simbólica. Aliados à imprensa impressa, vomitando diariamente manchetes sensacionalistas, mentirosas, omissas sobre a pluralidade de realidades e versões sobre o país. Os rostos dos repórteres hoje transbordaram de alívio e alegria de ter consumado o tão esperado golpe, até gargalhadas houveram durante as transmissões em Brasília. Foi a grande festa farsa do impeachment. Ontem estavam todos de branco, parecia ano novo.
A mídia está do lado dos ricos, dos que comandam a força policial, dos donos de empresas, dos donos de grandes terras, dos que manifestam discursos conservadores sobre a família e sobre as relações sociais.
O empossado à presidência já deu início à destruição do país durante os últimos meses, enquanto tomava o o lugar da presidente afastada temporariamente. Propôs o início de vários crimes que irá praticar durante os próximos meses: desmonte da estrutura de saúde pública duramente construída nas últimas décadas, desmonte das universidades públicas, desmonte de vários programas sociais iniciados ou continuados durante o governo Dilma. Deu início à processos de privatização e retirou parte da participação da Petrobrás no mais recente ouro do país que é o pré-sal, entregando à empresas estrangeiras. O empossado também extinguiu vários ministérios importantíssimos para o país. Tudo isso sem debate algum com a sociedade, através de ações rápidas.
Recém empossado hoje, disse em entrevistas que iria para à China fazer negócios. Enquanto o país começa a ser vendido no exterior, se inicia o processo de pacificação prometido: muita bomba de gás lacrimogêneo e efeito moral, balas de borracha e cacetada em quem ousar abrir a boca para falar: É GOLPE! É GOLPE! É GOLPE!
Daniela Alvares Beskow
Agosto/ 2016
Como citar essa coluna:
Beskow, Daniela Alvares. É golpe! É golpe! É golpe!. Palavra e Meia, Ago. 2016. Colunas. Disponível em: <http://www.palavraemeia.com/colunas/e-golpe-e-golpe-e-golpe/> Acesso em: [inserir data].